De Paraty - SP (+ 11 Cidades) a São João Del Rei - MG

Experiências de uma viagem de 412 km realizada em 7 dias pela "Estrada Real", saindo da cidade de Paraty-RJ com destino à cidade de São João Del Rei-MG.

Por Adilson Carvalho

Paraty-RJ a Cunha-SP - 1º MAIO 2015 - Sexta-feira (46,30 km) 

Igreja Matriz de Paraty
Saindo da rodoviária do Tietê em São Paulo, no dia 30 ABR 2015, às 9:00 h, com destino à cidade de Paraty–RJ (chegada 14:50 h), sabia que não conseguiria realizar o pedal até a cidade de Cunha, antes do anoitecer, por isso reservei uma pousada, conheci um pouco a cidade e decidi sair bem cedo no dia seguinte (1º de maio 2015).

Enquanto os primeiros turistas e carros tomavam o centro de Paraty, iniciei a subida da Serra da Bocaina pela RJ-165. O desnível de 1500 m ascendentes requer um bom preparo físico e é desgastante para qualquer ciclista ou caminhante, por isso resolvi guardar energia a “atacar” a subida pacientemente, pois acreditava que haveriam muitos quilômetros de estrada de terra pela frente.

Para minha surpresa, só enfrentei cerca de 5 km de terra, logo a 18 km de Paraty, encontrei a estrada toda calçada com lajotas de concreto e muitos carros descendo a serra em direção ao litoral, cujos motoristas me perguntavam, a todo momento, a condição da estrada na parte de terra.

Vencida a Serra, o restante do trajeto foi feito tranquilamente até aquela cidade.

Cunha, Guaratinguetá e Cachoeira Paulista - SP - 2 MAIO 2015 - Sábado (86,30 km)

Igreja Matriz de Cunha
Todas as pousadas da região em que fiquei preparavam o café da manhã às 7:00 h, o que me propiciava começar o pedal às 7:30 h. A descida de Cunha para Guaratinguetá foi feita toda por asfalto pela SP-171. Cheguei por volta das 10:30 h na praça da igreja matriz da cidade e decidi fazer uma parada para comer um lanche e descansar alguns minutos.

Mesmo freando para manter a segurança e não ganhar velocidade, cheguei a 59 km/h na Serra do Quebra Cangalha. Em contrapartida avistei alguns ciclistas se esforçando para vencer a Serra no sentido oposto.

A percepção de que o caminho da Estrada Real sentido interior-litoral é menos desgastante do que o sentido inverso litoral-interior é muito comum. Mas, tanto em um sentido quanto no outro, ao se deparar com uma serra, o ciclista terá que enfrentar subida de um lado e descida do outro, ou vice-versa.

No centro de Guaratinguetá observei uma iniciativa de mobilidade como se vê nas grandes metrópoles: a implantação de ciclovias.

Os 32 km restantes até a cidade de Cachoeira Paulista foram feitos com tranquilidade, praticamente metade por asfalto e metade por estrada de terra em boas condições. A Pousada Rural São Benedito, que fica à beira da estrada que vai para Cruzeiro, foi uma boa opção de pernoite, ainda mais com o o carinho e a atenção com que fui tratado, não poderia ter feito melhor escolha. 

Cachoeira Paulista, Passa Quatro e Itanhandu-MG - 3 MAIO 2015 - Domingo (55,90 km)


Maria Fumaça em Passa Quatro
Após um bom e tranquilo café da manhã, iniciei o trajeto do dia pelo asfalto da rodovia SP-058 em direção ao trevo, perto da cidade de Cruzeiro-SP e, em seguida, pela SP-052 em direção à cidade de Passa Quatro, para conseguir ultrapassar a Serra da Mantiqueira a 1.200 m de altitude.

O dia parcialmente nublado ajudou a minimizar o desgaste e vencer a subida após 1h40min ininterruptos de esforço.

Após o topo tomei uma estrada de terra paralela à rodovia e, no momento que atravessava os trilhos do trem, ouvi ao longe o arfar da maria fumaça que faz um passeio turístico saindo da cidade de Passa Quatro aos domingos.

E após o almoço naquela cidade, fui à estação para ver de perto a locomotiva, que retornou ao pátio de manobras daquela estação.

Os 12km restantes até a cidade de Itanhandu foram um "passeio" comparados aos quilômetros iniciais desse dia.

Itanhandu, Pouso Alto e Caxambú-MG - 4 MAIO 2015 - Segunda-feira (57,90 km)

Fonte D. Leopoldina
Nenhum dia de pedal é "fácil" quando se está em Minas Gerais. Os morros se sucedem, as serras têm que ser transpostas com paciência e esse dia não foi exceção.

Um pneu furado por um espinho, no meio do dia, e uma interpretação equivocada do trajeto me fizeram sair na rodovia movimentada e sem acostamento, deixando a tranquila estrada de terra em que me encontrava.

Os 20 km restantes até a cidade de Caxambú foram estressantes e feitos na maior velocidade possível para sair daquela situação.

Chegando à cidade, dei entrada na Pousada Águas de Caxambu, deixei a bike em segurança em um quartinho disponibilizado pelo recepcionista e segui para conhecer o Parque das Águas.

Caxambu, Cruzília e Carrancas-MG - 5 MAIO 2015 - Terça-feira (86,70 km)

Igreja Matriz de Carrancas
A garoa que caiu na noite anterior deixou a temperatura amena e ideal para pedalar. Às 10:45h eu já estava na Praça da Igreja Matriz de Cruzília para um lanche e alguns minutos de descanso para enfrentar a segunda etapa do dia em direção a Carrancas.

Mais um dia com quilometragem alta para estradas de terra, mas como só dispunha de sete dias para fazer a travessia até a cidade de São João Del Rei, não restava outra opção.

Carrancas, Capela do Saco e São Sebastião da Vitória-MG - 6 MAIO 2015 - Quarta-feira (53,40 km)


Travessia do rio
Tudo corria bem, até chegar à balsa da Capela do "Saco" que, justamente no dia de minha chegada, estava inoperante devido a um defeito no motor. Nenhum aviso tinha sido colocado e como não havia ninguém na balsa, fiquei aguardando, aguardando...

Duas horas depois... um carro buzina na margem oposta e o condutor da embarcação aparece enrolando um cigarro de palha na mão, avisando sobre o defeito e gesticulando para o motorista na margem oposta.

Como tinha visto um barco de alumínio por perto, perguntei ao condutor se não tinha alguém que pudesse me atravessar para a outra margem a 700 m de distância. E para minha alegria, indicou-me o Sr. Luiz, que prontamente veio ao meu socorro e de mais dois ciclistas que haviam chegado na margem oposta. Cobrando o mesmo valor da balsa, tratamento vip.

Nesse dia, a minha intenção era chegar a São João Del Rei, o que já se tornava difícil depois desse atraso não programado. Mas, mesmo assim, eu estava decidido a tentar fazê-lo. Infelizmente, algum tempo depois da travessia da Represa de Camargos, começou a cair uma chuva fina, que apertou logo depois, e deixou a estrada enlameada e faltando apenas 4 km para chegar em São Sebastião da Vitória, eu já não pedalava, tentava apenas fazer com que a bike "andasse" alguns metros, mas isso já era difícil.

O barro argiloso aderia à roda da bike de tal forma que, mesmo empurrando, eu precisava parar e tirar um pouco do barro a cada cinco metros. Os três quilômetros restantes me custaram outras 2,5 horas para serem transpostos.

A saída que encontrei foi pernoitar na única pousada de São Sebastião da "Vitória" (nome sugestivo depois de tudo o que eu tinha passado) e me dar por vencido naquele dia.

São Sebastião da Vitória a São João Del Rei - MG - 7 MAIO 2015 - Quinta-feira (25 km)

Levantei cedo na manhã seguinte e segui para a cidade de São João Del Rei com a bike "estralando" a todo momento, mesmo tendo passado mais de meia hora tentando limpá-la num posto de gasolina, na tarde do dia anterior.

Não sabendo se minha bike suportaria os 25km restantes por mais estrada de terra enlameada, decidi pedalar pela rodovia sem acostamento até São João Del Rei e chegar o mais rápido possível aquela cidade, antes que a estrada fosso tomada por caminhões em alta velocidade passando por mim. Deu certo! E ainda cheguei com tempo de comprar passagem de volta a SP no ônibus das 9:15h horas da empresa Útil (foram 9 horas de viagem em direção a Capital, que para um cicloturista cansado pareceram bem mais).

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